Who are you?

A diversidade de papéis que temos  em nossa vida, muda a expressão do "ser alguém" para "estar alguém". Afinal, somos pais, mães, filhos, clientes, homens, mulheres, funcionários ou patrões. Sendo nós mesmos, diferentes em cada circunstância. Temos que reafirmar valores, reorganizá-los e até mudá-los constantemente. Algumas situações podem revelar atitudes e sentimentos, que não imaginaríamos partir de nós, assim um novo "eu" surge, podendo somar-se ao "ser" ou mesmo mudá-lo completamente. Portanto, acho que essa teoria pode explicar por que na língua inglesa, o  verbo mais importante, o verbo To Be, significa Ser e Estar ao mesmo tempo. Diante da inconstância do ser, podemos mudar a pergunta "quem é você" por "quem está você", para não assassinar o português, "Who are you?"

"Você disse Ser Humano?"

Para a publicidade, você é um target a ser atingido; para a Receita Federal, um contribuinte a ser tributado; em algumas empresas, você é um recurso para ser administrado; perante a Constituição, um cidadão com direitos e deveres; para qualquer loja, um cliente a atender; para o mercado, consumidor. 
E uma série de números - RG, CPF, senhas e registros em bancos de dados. Parafraseando Flusser e Proudhon, completando com Raul Seixas, ser alguém é também ser codificado, conectado, plugado, mapeado, digitalizado, tuitado, blogado, perfilado, guardado em bits, pixelizado e significado, se quiser existir." ("O que é ser alguém?" Luís Mauro Martino - Revista Filosofia)

Fazer aniversário, até para quem diz que não, traz sempre alguma reflexão sobre a vida. Se eu encontrasse com a Márcia de 15, 20 anos atrás, qual seria o diálogo??  Abandonei muitos sonhos, segui em outra direção, nunca imaginei ser mãe, ainda mais de 4 filhos!  Já passei da fase de imaginar o que teria acontecido, se tivesse seguido os planos da menina sardenta e de cabelo cor de fogo, que os professores comparavam a uma brasa saltitante, que no fundo era carente e insegura. Insegurança essa, que luto até hoje! Uma necessidade de aprovação, um medo de não me compreenderem, uma bobagem, que venho combatendo arduamente, já com bons resultados, mas longe de uma solução!

Não tive grandes traumas, nem muitas decepções, o que geralmente causa algumas mudanças. O que foi me transformando com passar desses anos foi o cotidiano mesmo. Ter filhos é algo que  nos ensina mais do que temos a ensinar. E com eles, eu aprendi a ser melhor do que eu era antes. Mesmo que a essência seja a mesma, o que percebo em algumas atitudes e pensamentos insistentes, sinto que muita coisa mudou.

O segundo casamento me mostrou que uma relação saudável e feliz, só pode ser baseada em muito respeito e admiração. Colocar-se no lugar do outro, perceber o quê nossas ações despertam no outro, ser tolerante e compreensivo.

Houve um tempo que eu acreditava que o dia do meu aniversário era uma marco, uma oportunidade, como acredita-se ser o Reveillon. Eu ficava esperando o presente, a surpresa, a mudança. Essa crença foi motivo de decepção, de depressão até, quando me dava conta de que nada mudaria, de que não haveria surpresas, quiçá um presente. Finalmente me dei conta que ninguém pode me dar esse presente... apenas eu mesma.

 Aos 35 anos eu mudei. Sinto-me em paz. Mudei a direção do meu olhar para dentro de mim e me deparei com um admirável mundo novo, cheio de mistérios e supresas, que não precisam de datas especiais para acontecer. Ainda tropeço nos meus defeitos, mas convivo melhor com eles... estou tentando canalizá-los, já que fazem parte de mim, não dá para extirpá-los. Acolhi a minha sombra, tenho que viver em harmonia com ela, se quiser me sentir completa. Aceitei o caminho, que eu mesma escolhi  mas não o reconhecia. Aos 35 anos eu nasci para mim mesma.