Quando eu era criança, o tempo era um tormento. Ele custava a passar. O intervalo entre a noite e o dia, que me separava das brincadeiras na rua, parecia levar um século para passar. Passei várias noites, olhando para o relógio, que ao invés de minutos, contava em dias.
Claire Pacheco |
AH! OS RELÓGIOS
Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...
Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.
Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.
E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...
Mario Quintana - A Cor do Invisível
Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...
Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.
Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.
E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...
Mario Quintana - A Cor do Invisível
Agora, porém, esse mesmo tempo anda com pressa. O que preciso fazer não cabem nas breves horas de um dia. Dizem que quem não sabe aproveitar o seu tempo, são os primeiros a queixar-se da sua brevidade. Definitivamente, eu não sei aproveitar o meu. São tantos afazeres, tantas cobranças, tantos planos, que é impossível organizá-los. Não somente por falta de planejamento, mas porque passei a me incomodar com a passagem das horas, que dão o desespero de uma contagem regressiva. Não há tempo que baste para fazer o que nos aborrece!
Claire Pacheco |
"A vaidade faz-nos olhar para o tempo, que passou, com indiferença, porque já nele fica sem ação; faz-nos ver o presente com desprezo, porque nunca vive satisfeita; e faz-nos contemplar o futuro com esperança, porque sempre se funda no que há de vir; e assim só estimamos o que já não temos; fazemos pouco caso do que possuímos; e cuidamos no que não sabemos se teremos."
Matias Aires, in 'Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens e Carta Sobre a Fortuna'
Claire Pacheco |
Na infância, nosso corpo e nossa mente passam o tempo todo fervilhando com tantas descobertas. As horas passam depressa, mas os anos parecem décadas. Temos tantas lembranças, que não condizem com os breves anos da infância. Cada vez que refletimos sobre as experiências de criança, novas descobertas se apresentam. Cada época da nossa vida, parece ser proporcional às reflexões, que dela temos. Na maturidade, a velocidade das descobertas é substituída pela morosidade das lembranças, onde as horas parecem dias, mas os anos passam como semanas.
O despertador desperta,
acorda com sono e medo;
por que a noite é tão curta
e fica tarde tão cedo?
Millôr Fernandes, in "Pif-Paf"
Claire Pacheco |
Quando estamos engajados em produzir algo, passamos a perceber o tempo, tentando em vão superá-lo. Quando vivemos uma vida medíocre e tediosa, sem planos ou realizações, o correr das horas não incomoda. Quem não valoriza o breve tempo da vida, não se importa em gastá-lo com futilidades. O tempo de cada um de nós é único. Embora, todos compartilhem da mesma medida de tempo, ele passará de maneira diferente para cada ser.
Claire Pacheco |
Frequentemente, nos queixamos do presente, o passado se tornou um saudoso instante e olhamos para o futuro com esperança de algo distante. O fato é que temos o tempo suficiente para realizar aquilo que fomos destinados a fazer. Como disse Oscar Wilde : “O objetivo da vida é o desenvolvimento próprio, a total percepção da própria natureza, é para isso que cada um de nós veio ao mundo.” Portanto, será inteiramente feliz e cumprirá a sua missão, aquele que utilizar o tempo para aprimorar a si mesmo.
Claire Pacheco |
"Agimos sempre no sentido do destino. As duas coisas formam uma só.
Quem se engana é porque ainda não compreende o seu destino. Quer dizer, não compreende qual a resultante de todo o seu passado - o qual lhe indica o futuro. Mas quer o compreenda ou não, indica-lhe à mesma. Cada vida é aquilo que devia ser." Cesare Pavese, in 'O Ofício de Viver'
Gostei muito das gravuras de Claire Pacheco, acompanhadas das ótimas reflexões sobre o tempo.
ResponderExcluirComo você, passei momentos de agonia na infância esperando o tempo passar, principalmente quando o clube que frequentava ficava fechado para manutenção, às segundas-feiras.
Hoje, corro atrás do tempo e não alcanço...
Obrigada por compartilhar.
Meu afetuoso abraço,
Yolanda