Aparências | Mamãe Recomenda

14 de outubro de 2010

Aparências

Suponho que no princípio dos princípios, antes de havermos inventado a fala, que é, como sabemos, a suprema criadora de incertezas, não nos atormentaria nenhuma dúvida séria sobre quem éramos e sobre a nossa relação pessoal e coletiva com o lugar em que nos encontrávamos.(...)Nessa hora inicial, o mundo foi pura aparência e pura superfície(...)Todas as coisas eram o que pareciam ser pelo único motivo de que não havia qualquer razão para que parecessem e fossem outra coisa.

(...)Hoje, porém, embora sabedores de que desde o último dos vírus até ao universo, não somos mais do que organizações de átomos e que no interior deles, além da massa que lhes é própria, ainda sobra espaço para o vácuo (o compacto absoluto não existe, tudo é penetrável), continuamos, tal como o haviam feito os nossos antepassados das cavernas, a apreender, identificar e reconhecer o mundo segundo a aparência com que se nos apresenta.

A genialidade de Saramago não precisa de comentários e é por demais reflexiva. Afinal, quantos de nós vivem num palco? Atores da própria vida? Quantos prometem o que não podem cumprir? Quantos usam a maquiagem que esconde sua verdadeira face? 
Quando eu era criança, eu sonhava ser atriz. Sempre achei que o ator é o ser humano mais sortudo do mundo. Não me refiro ao sucesso e ao glamour... O ator  pode viver  todos os sentimentos, é o vilão ou o mocinho, pode ter poderes sobrenaturais, ser herói e ser covarde, nascer em todas as classes, morrer mil vezes e amar de todas as maneiras. O ator não tem medo de se expor ao ridículo, não teme a vaidade, ao contrário, usa dela para dominar todas as vidas que os roteiros lhe possibilitam viver. 


aparencia
O que é não é o que parece! Trabalhos de Ilusão de Tim Noble e Sue Webster


Mesmo que essas vidas sejam apenas ficção, os sentimentos que despertam dentro de si para a criação de cada personagem é real. Talvez por isso, muitos atores e atrizes sucumbem ao vício, à depressão e a solidão acompanhada dos holofotes. Não deve ser fácil carregar tantas vidas dentro de si. 


realidade
O que é não é o que parece! Trabalhos de Ilusão de Tim Noble e Sue Webster


Vi o novo comercial da Nextel estrelado por Fábio Assunção. O texto desse comercial é emocionante, porque fala sobre isso, sobre sermos nós mesmos, sem máscaras, sem atuações. 


"Eu vivo muitas vidas. Mas o Fábio, eu não posso interpretar. Esse personagem aqui eu não escolhi, mas sei que minhas escolhas, que definem quem eu sou.
Lutei, desisti, abandonei, duvidei, me esqueci, me encontrei. Não foi atuando que descobri meus medos e virtudes, foi por ter liberdade nas minhas escolhas. 
Ainda vou viver muitas vidas nessa minha vida, mas felicidade é ser eu mesmo."
felicidade
O que é não é o que parece! Trabalhos de Ilusão de Tim Noble e Sue Webster



Descobri com o tempo que não é necessário ser ator para viver várias vidas. O roteiro da nossa vida encarrega-se de nos dar papéis diferentes em cada momento. Porém, como acontece com o ator, não são os papéis que interpretamos que nos trarão a verdadeira felicidade.
 As aparências enganam. Enquanto algumas pessoas tentam parecer o que não são, outras tentam parecer o que  não podem ser e outras ainda, tentam não parecer o que realmente são. E cada um de nós vai tentando ser melhor aos olhos dos outros, exceto para nós mesmos. 


Geralmente, depois que termina o primeiro ato, notamos que esquecemos grande parte do texto original, aquele texto que escrevemos, mas entusiasmados pela platéia, adaptamos o roteiro a fim de agradá-la. Momento terrível é quando as cortinas se fecham e os aplausos cessam. Tirar o figurino, a maquiagem e olhar diante do espelho, que dispensa falas e roteiros, que não aplaude nem vaia. Ser indiferente e não valorizar as próprias qualidades. Não conseguir encarar nossa verdadeira e despida face porque ela não se tornou aquilo que os outros esperaram que ela se tornasse. 


verdade
O que é não é o que parece! Trabalhos de Ilusão de Tim Noble e Sue Webster



"Sempre a realidade de nós é a realidade original que na origens se gera. Sempre a autenticidade de nós está a uma distância infinita das razões que a justificam. "




Imagens:Ilusões de Tim Noble e Sue Webster
Fonte: Reflexões Diárias



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