Estou lendo "O Livro do Desassossego" de Fernando Pessoa. Este livro é uma reflexão sobre a vida. Não há uma frase se quer, que não nos leve a refletir sobre as ações da nossa própria vida. Um trecho logo no ínicio, chamou minha atenção:
"(...) Tenho que escolher o que detesto - ou o sonho que minha inteligência odeia, ou a ação, que a minha sensibilidade repugna; ou a ação para que não nasci, ou o sonho, para que ninguém nasceu. (...)"
Vladimir Kush |
Acho que também sofro desta dúvida, mas não sei se posso concordar que ninguém nasceu para sonhar... e no fundo acho que nem o próprio Fernando Pessoa concordava. No breve espaço entre nascer e morrer, acho que nossa única bagagem são os nossos sonhos.
Vladimir Kush |
Como disse Satre, "Determinado rochedo, que demonstra profunda resistência se pretendo removê-lo, será, ao contrário, preciosa ajuda se quero escalá-lo para contemplar a paisagem."
Assim nesse universo de contradições, que é nossa existência, escolher entre agir e sonhar, significa, não apenas, o modo como iremos escrever nossa história, mas como ela será lida depois.
DrFranken |
Aqueles que optaram por sonhar e agir, foram aqueles que entraram para a história da humanidade. Tornaram-se heróis e exemplos. Escreveram sua história para servir de guia e inspiração para outros. Como cada dia, raros são os heróis que surgem, parece que o mundo e nós mesmos, perdemos a liberdade de escolher e realizar. Também passamos a responsabilizar o tempo e o vento pelas mudanças e fracassos.
Esse argumento sobre a liberdade que não temos, refere-se a nossa impotência diante da vontade de mudar. Mas, parece que somos fracos diante da nossa própria realidade. Não nos sentimos livres, porque nossa história parece já ser escrita, com todas as adversidades incluídas. Usamos essa sensação como desculpa para nossa impotência, justificando não dominar nem nossos apetites mais insignificantes ou nossos hábitos.
Embora, tudo leve a crer que algo em nossa vida, parece previsto, isto não justifica, viver à margem dela. Ainda segundo Satre, o rochedo fica à espera de ser considerado adversário ou auxiliar, e mesmo que haja a necessidade de picaretas e ganchos para escalá-lo, e mesmo que seja muito dificil, ou que se chegue a conclusão de que não é possível escalá-lo, isso tudo nos prova que temos sim, liberdade para avaliar e escolher como agir.
A capacidade de avaliar e escolher é o que diferencia aqueles que conquistam seus propósitos. É preciso afirmar e contradizer os livros de autoajuda ou a física quântica: mesmo que sigam à risca os passos para o sucesso, nem todos o alcançarão. Haja vista que, o sucesso só é especial, por pertencer a poucos. O importante é sonhar e agir em prol da cura de nós mesmos, tornando importante a nossa existência para aqueles que com ela cruzarem. E como escreveu Fernando Pessoa, que me inspirou nessa viagem filosófica: "Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, um dia relido por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também.
Márcia,
ResponderExcluirVocê não poderia ter escolhido melhor livro para ler.
Como diz Fernando Pessoa em seu livro Desassossego:
"Sou qualquer coisa que fui. Não me encontro onde me sinto e se me procuro, não sei quem é que me procura. Um tédio a tudo amolece-me. Sinto-me expulso da minha alma".
"Sou uma espécie de carta de jogar, de naipe antigo e incógnito, restando única do baralho perdido. Não tenho sentido, não sei do meu valor, não tenho a quem me compare para que me encontre, não tenho a que sirva para que me conheça".
A liberdade é um estado de espírito, e muitas vezes não conseguimos nos desvencilhar das grades que nos cercam, e temos que continuar presos dentro de nós mesmo.
Parabéns pelo excelente texto.
Bjs.
O Fernando esse grande poeta português,sempre a nos ensinar algo
ResponderExcluirSonhar e Agir,eis a combinação perfeita não é mesmo,é necesário sempre determinação para irmos além dos nossos sonhos para alçarmos voo rumo aos nossos objetivos.
Márcia,eu conheci seus escritos desde da semana dos escritores (do blog da Jackie (a fênix - mulher))e estou muito admirado com o seu talento para lidar com as palavras,sério mesmo,bendita hora que entrei para o Dihitt (estou há 4 meses e estou encantado com todos os amigos,todos ao seu modo têm algo a acrescentar.Obrigado.
Um Abraço.
Um esse trecho e texto me fez pensar no Louco do tarot, afinal, nunca sabemos se ele ta chegando agora, ou se esta saindo dessa para outra fase.A bolsa ou trouxa que ele carrega pode ser seus sonhos, talentos, dons, que ele traz de outra vida ou simplesmente a sabedoria do hoje, com espaço para mais e mais.E ai, chegamos ou saimos?Bjs!
ResponderExcluirMárcia, tenho este livro na minha cabeceira. E afirmo que Fernando Pessoa acreditava em sonhos e realizações, o que ele mais temia era sonhar e não agir... ficar parado a espera do milagre que não viria sem a ação.
ResponderExcluirAcredito que o sucesso seja para todos sim, no entanto, como muito bem colocado no seu texto, para alcançá-lo é necessário sonhar, acreditar e agir! A dificuldade está em alcançar na medida certa os três....
Beijo no coração
Márcia, parabéns pela matéria adorei vou procurar este livro pra ler.
ResponderExcluirAbraço.
Amo Fernando Pessoa. Muita coisa do que ele escreve parece ter saído de mim. Às vezes, a vida não é boa com quem sonha, mas desistir, jamais! :)
ResponderExcluirFlávio, homem, desculpe a demora na resposta!
ResponderExcluirTambém faço essa pergunta! diante de tantas situações, não parece que já trazemos bagagem... será que estamos chegando? Enquanto, em outras encontramos as repostas das perguntas que nunca fizemos! Será que estamos saindo? Enfim, acho que no fundo sabemos as respostas! Será? Obrigada pela ilustre e iluminada visita!
Giselle, mulher! Tenho essa mesma sensação! Parece que eu poderia ter escrito, parece que ele escreveu para mim! Fernando Pessoa tem esse poder... de falar diretamente com cada um que o lê. Simplesmente, sensacional! Muito obrigada pela visita e por participar! Bjo enorme para vc! marcia
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