"Pare o mundo que eu quero descer"

Os problemas do mundo são velhos problemas. Raul Seixas já cantava as misérias da vida desde 1970. A corrupção, a solidão, o amor platônico, a morte, o medo, a loucura. Os problemas são os mesmos desde que o homem aprendeu a andar para frente, são primatas. De tão antigos, são considerados normais. Ninguém acha necessário resolvê-los, então o que era velho, tornou-se crônico. O tempo não foi generoso com esses velhos problemas.


 

 "Se hoje eu sou "estrela" amanhã já se apagou

Se hoje eu te odeio, amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho horror

Lhe faço amor

Eu sou um ator..."

Em 1970 e já muitos anos antes, já se cantava as crises existenciais e a inconstância do sentimento humano. Essa pressa em alcançar os objetivos a qualquer custo e sobre qualquer pessoa. Hoje, não há mais poesia nem canções, que consigam denunciar o comportamento do homem. O negócio é tão feio, que a arte não pode expressar. E quando tenta, deixa de ser arte, agride.

"Chato chegar a um objetivo num instante

Quero viver nessa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Sobre o que é o amor; Sobre que eu nem sei quem sou

Vivo a viver a vida no segundo e no instante..."

A identidade familiar foi perdida. O homem, que se perguntava a razão de sua existência, não questiona mais. Vive a vida sem sentir, mergulhado numa rotina massacrante e tediosa, que consome sua sáude, seu tempo e sua felicidade. A amizade há muito tempo transformou-se num elo de interesses. Ao amor adere-se cifras. Aos jovens, combina a futilidade e a preguiça.

 

 "Pare o mundo que eu quero descer!"

"Gente é tão louca

E no entanto tem sempre razão

Quando consegue um dedo Já não serve mais, quer a mão

E o problema é tão fácil de perceber

É que gente Gente nasceu pra querer

Gente tá sempre querendo

Chegar lá no alto

Pra no fim descobrir

Já cansado que tudo é tão chato

Mas o engano é bem fácil de se entender..."

O maior e mais antigo problema do homem, é levar a vida a sério demais. Tentar encaixar-se em padrões absurdos, não expor sentimentos para não parecer piegas, não se entregar ao amor, com medo de sofrer. O homem teme ser ridículo. E assim perde a oportunidade de ser feliz de verdade.

 "Enquanto você Se esforça pra ser Um sujeito normal E fazer tudo igual...

Eu do meu lado Aprendendo a ser louco Maluco total Na loucura real...

Controlando A minha maluquez Misturada Com minha lucidez..."

A vida é muito importante para ser levada a sério.

Oscar Wilde

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